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Bono de Vox

Crônicas para ler no café coffee

Bono de Vox

O relógio marca 2:45 da madrugada e tive uma inspiração. Devo colocá-la no papel? Geralmente é o que faço. Tenho bloco e caneta no criado-mudo, mas hoje corri para o computador. Se eu não escrever? Pode esquecer...

Chame de intuição, estalo ou inspiração, o certo é que não basta ter, é preciso que esteja associada à oportunidade. Ou, se preferir em latim contemporâneo,timing, que o Houaiss define como "sensibilidade para o momento propício de realizar ou de perceber a ocorrência de algo" e Geraldo Vandré como "quem sabe faz a hora, não espera acontecer".

Comecei a pensar no assunto há duas madrugadas, enquanto assistia a um documentário sobre o incrível Robert Allen Zimmerman, nome bom para um joalheiro, não para um Bob Dylan. Levado a tiracolo para o movimento dos direitos civis por Joan Baez, é o típico caso do talento que se transformou em evento graças ao timing do vento. Nossa! Não acredito que fiz esta rima ridícula!

Acho que é porque "Blowing in the Wind" — adotado como hino dos direitos civis — está despenteando meus neurônios. Mas foi assim. Protestar contra a discriminação nos EUA era a bola da vez. Daí o choque que Dylan causou nos fãs quando eletrizou a guitarra e mudou seu discurso para falar de grilos interiores. O corpo de Martin Luther King já tinha esfriado.

Mas não foi só Dylan quem ganhou com o timing. Não havia na Inglaterra um ativismo social igual, mas havia uma juventude procurando por alternativas. Hora boa para uma banda do bem e outra do mal: Beatles eRolling Stones.

Bem, no princípio os dois eram do mal, vestidos de couro e cabelos desgrenhados, mas Brian Epsteindecidiu lançar os Beatles comportados, de terninho e cabelinho meio Channel, uma alternativa higiênica para os Rolling Stones. Assim papai e mamãe podiam deixar os filhinhos irem aos shows.

John Lennon foi o Bob Dylan dos Beatles no timing de seu protesto. Vai ter fã querendo me matar como fizeram com ele, mas está na cara que ele soube e fez a hora, despindo-se literalmente dos valores ocidentais e adotando, também literalmente, valores orientais. Pode não ter sido lá muito planejado, mas que o timing estava correto, isso estava.

Senso de oportunidade é geralmente traduzido comosorte por quem vive reclamando que não tem e morre de inveja de quem tem. É algo que você não apenas precisa ter, como também administrar.

No final do século passado eu só escrevia sobre Internet. Era a bola da vez. Como fizeram os fãs de Bob Dylan — nossa, que pretensão minha comparação! — alguns leitores se queixaram quando passei a escrever sobre marketing, gestão de carreira e coisas assim. Mas anote aí no seu bloquinho: se não administrar seu timing vão se esquecer de você.

Agora que já estou jurado de morte pelos fãs de Bob Dylan e John Lennon não custa nada falar do senso de oportunidade de Bono Vox, pseudônimo de Paul David Hewson. Assim como Bob Dylan e John Lennon, cada um em sua época e ao seu modo, Bono Vox é referência na era da inclusão social — U2 lê-se "You Too" ou "Você Também".

Entenda que ter senso de oportunidade não é o mesmo que ser oportunista, no mau sentido. É sinal de inteligência, de saber aliar sua arte a uma causa ou sua causa a uma arte, de unir o útil ao agradável. É por falta de timing que muitas estrelas de menor grandeza não passam de aquecimento para shows maiores. O que não deixa de ser uma oportunidade.

Ah! Há outra coisa que preciso incluir neste tema tão oportuno: senso de oportunidade depende de presença de espírito e boa comunicação. Duas coisas que Bono Vox demonstrou ter numa entrevista mais ou menos assim:

— O que acha de seu show ser depois dos Rolling Stones, que atraíram mais de um milhão de pessoas?

— Acho ótimo que tenham feito o aquecimento do público brasileiro para nosso show — respondeu o artista espirituoso e bom de papo. Ou, na gíria em latim que deviam usar na Roma antiga, "bono de vox".

Mario Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Veja emwww.mariopersona.com.br

Esta crônica de Mario Persona pode ser publicada gratuitamente como colaboração em seu site, jornal, revista ou boletim, desde que mantidas na íntegra as referências acima. 

  


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