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WORKAHOLIC – Quando o profissional vira refém do trabalho – Entrevista de Mario Persona – Revista Exame

ENTREVISTA

WORKAHOLIC
Quando o profissional vira refém do trabalho

Fui entrevistado pela revista Exame para uma matéria sobre o excesso de trabalho e a má administração do tempo dos profissionais. A íntegra da entrevista você encontra aqui.

http://youtu.be/MrR04Fnm3BQ

Por que é que alguns empresários e empreendedores acabam reféns do próprio negócio e já não desfrutam de uma vida própria, do lazer, da família?

Mario Persona - É difícil de responder porque às vezes há empresários ou empreendedores que não trabalham ou não consideram como trabalho aquilo que fazem. Por exemplo, eu já não trabalho há algum tempo porque faço o que gosto. Deixei de lecionar há alguns anos, embora gostasse de fazer isso, e também parei com as consultorias para ficar só com palestras e treinamentos. Como gosto de falar, de ensinar as pessoas e de escrever, enfim, como gosto muito do que faço, eu não trabalho. As pessoas pagam para eu me divertir.

Às vezes você observa pessoas que trabalham com o que gostam, e é comum encontrar isso na área de sistemas. O sujeito adora isso e fica o dia inteiro trabalhando no computador, não necessariamente porque precisa, mas porque gosta. Pessoas que trabalham na área de publicidade também costumam ser assim, gostam de criar. Jornalistas também, porque gostam de escrever e escrevem muito, fazem por paixão. Pessoas assim não se sentem como se estivessem trabalhando, porque estão o tempo todo estimulando seu lado criativo. Mas quando o trabalho é um fardo, aí é complicado.

O trabalho pode virar um fardo se o objetivo da pessoa for apenas o dinheiro no final. Ela gosta do fim, mas não do meio, e então começa a ficar esgotada com o que faz.

Por que isso ocorre principalmente com o pequeno e médio empreendedor?

Mario Persona - Normalmente o que vemos com o pequeno ou médio empreendedor é que falta a ele certas competências. Ele começa uma empresa na raça e coragem, geralmente depois de sair de uma empresa grande onde estava cercado de pessoas que faziam o que ele não faz. Então ele se vê sozinho ou até cercado de pessoas incapazes de complementar suas funções, e se sente sobrecarregado por ver que não pode parar. Não consegue tirar tempo para férias, para a família, para o lazer. Ele acha que se parar a empresa não anda, e geralmente é isso mesmo que acontece. Na verdade ele ainda não é um empreendedor, ou não atingiu o estágio de empreendedor. Ele ainda é abelha operária.

Numa empresa você tem o empreendedor, que é quem pensa longe, planeja, monta estratégias, tem ideias. É alguém que trabalha muito mais com o cérebro e com o pensamento do que com as mãos executando alguma coisa. Numa empresa você tem também o perfil do administrador que gerencia recursos, que é a pessoa que faz a máquina toda funcionar. E você tem a pessoa que executa, o operacional, que põe a mão na massa, que produz o serviço ou o bem tangível.

Estes três perfis são necessários na empresa: o empreendedor, o administrador e o operacional. Os três são necessários. Quando o empreendedor vai fazer o papel do operacional ele deixa de administrar, e aquilo que é mal administrado vira bagunça e bagunça gera ansiedade. E se ele for o que executa, o operacional, acabará enxergando só o que está debaixo do próprio nariz, e sua empresa também sofre porque ele não tem tempo para examinar o horizonte, para planejar, para pensar. A empresa vai estagnar no presente sem ninguém para perceber o futuro.

Não seria isso mais natural no início, para depois ir mudando com o tempo?

Mario Persona - Sim, mas o empreendedor deve ter sempre em mente que sua capacidade de empreender é a de alguém que deve criar recursos para a empresa, de contratar as pessoas certas para executar o serviço e fazer a empresa funcionar sem ele. Este é o empreendedor de verdade, algo em que eu sou péssimo. Por trabalhar mais na área de criação, escrevendo e ministrando palestras e treinamentos, acabo virando uma one-man-band, ou seja, não tenho outro que faça isso por mim. Eu dificilmente seria a pessoa certa para tocar uma empresa grande, porque eu teria dificuldade em colocar as pessoas certas nas áreas corretas.

Acho que esta capacidade de fazer uma auto-análise é algo que qualquer empreendedor deve ter, para fazer um diagnóstico de suas competências e buscar ajuda naquilo que lhe falta. Nem todo mundo tem o perfil ou a capacidade de conseguir criar uma equipe e fazer a empresa funcionar enquanto passa férias no Havaí. Nem todos têm esse perfil, pois tem gente que gosta de estar na empresa o tempo todo.

Como reverter o cenário e deixar de ser operacional para ser mais empreendedor?

Mario Persona - O empreendedor é acima de tudo alguém que corre riscos. Ele corre riscos quando inicia seu negócio do nada enfrentando concorrência. Ele irá correr riscos ao lançar produtos ou serviços inovadores. Ele irá correr riscos contratando pessoas nas quais deve depositar sua confiança, e se não tiver capacidade para contratar deverá pelo menos contratar quem saiba contratar e confiar que essa pessoa saberá encontrar as pessoas certas para cada posto. Portanto ele precisa estar disposto a correr riscos de todos os lados.

Por exemplo, se ele tem um problema de produção na fabricação de um produto, por não conseguir crescer por trabalhar demais sem conseguir atender a demanda, ele precisa correr riscos financiando uma nova máquina para poder aumentar a produção. Talvez ele seja obrigado a correr o risco de terceirizar serviços ou de assumir uma sociedade e trazer outra pessoa para sua empresa, de preferência alguém diferente dele para complementar.

Essa capacidade de correr riscos é importante, mas o risco é sempre risco: pode funcionar ou não. Ele vai precisar de coragem para apostar, porque é esse o perfil do empreendedor, de alguém que aposta e corre riscos. Ele não vai ter um salário no fim do mês como tem um empregado. Todos os dias ele aposta que no final do dia irá conseguir fechar as contas.

No fundo o papel do empreendedor é trabalhar com a cabeça: fazer pouco e pensar muito. Lembro-me de quando era jovem e trabalhava em um banco na área administrativa. Uma coisa que chamou minha atenção na época foi que todas as mesas dos diretores não tinham gavetas. Os diretores não deviam ter gavetas. Eles tinham a mesa para pensar, rabiscar, anotar, mas não para executar ou guardar coisas. O papel deles era pensar e organizar pessoas, passar as tarefas para elas.

Este é o papel de quem está no topo da pirâmide. Quanto mais no topo da pirâmide você está, mais você pensa e menos trabalha. Quanto mais perto da base da pirâmide você está, mais você executa e menos pensa, porque não sobra tempo para pensar. Isto funciona tanto para uma empresa como para os países do mundo. Os países do primeiro mundo pensam e registram os copyrights de seus pensamentos na forma de ideias. Nós pagamos royalties para usar esses pensamentos e transformá-los em produtos em nossas fábricas.

Entrevista concedida ao site da Revista Exame em 07/02/2011.

Entrevistas como esta costumam ser feitas para a elaboração de matérias, portanto nem tudo acaba sendo publicado. Eventualmente são aproveitadas apenas algumas frases a título de declarações do entrevistado. Para não perder o que eu disse na hora da entrevista, costumo gravar ou dar entrevistas por escrito. A íntegra do que foi falado você encontra aqui.

Mario Persona é consultor, escritor e palestrante. Veja emwww.mariopersona.com.br


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