Logo

Uma questão de estilo

CRÔNICAS DE NEGÓCIOS

Uma questão de estilo

Como tudo na vida é passageiro - exceto cobrador e motorista - a farra de empregos na Internet também acabou. Milhares passaram da glória de um cargo ponto-com ao estigma de um ponto-sem. Funcionários comuns são despedidos. Executivos saem para "buscar novos desafios".

Não é vergonha ficar disponível por culpa da acomodação do mercado. Ter sido um destemido marinheiro dos mares virtuais não desqualifica ninguém, muito pelo contrário. O canto de sereia também seduziu os tímidos, mas nunca saíram do porto. Quem se aventurou, errou e aprendeu. Nenhuma escola ensina experiência.

Pior que o desemprego é o veneno da autopiedade. O melhor é virar a página e "buscar novos desafios". Como fazem os executivos. Passei por isso no início dos anos oitenta. Na época ninguém queria construir para não perder o ilusório ganho das cadernetas de poupança. O dinheiro ficava mofando nas contas e os arquitetos nos escritórios.

Cansei-me de lavar panelas em casa e decidi vendê-las. O produto importado, com preço de microondas, chamava-se "Sistema de Cocção por Autoclave". Panelas, para os íntimos. Agendava reuniões e chás em casas de madame e, impecável e sorrindo como o Sílvio Santos, fazia meu show do milhão. Ensinando como cozinhar milho sem perder as vitaminas.

A panela era de aço duplo. Tão resistente, que fazia parte do número correr pela sala e saltar com os dois pés sobre uma delas no chão. Torcendo para a madame não ligar para o manicômio. Uma delas, mais cética, obrigou um colega a tentar o mesmo com uma de suas panelinhas de alumínio. Perdeu a venda. Mas inventou a fôrma de pizza com cabo.

Saí do negócio após vender um único conjunto para uma tia caridosa. Decidi "buscar novos desafios". Não demorou e eu estava com o mesmo terno, gravata e cheiro de naftalina, sendo entrevistado pelo gerente de uma grande empresa. Experiência anterior? O currículo deixava claro: "Promoção e Vendas de Sistemas de Cocção por Autoclave". Gerente algum iria perguntar a um noviço o que era aquilo.

Antes de começar, vi que a mesa do gerente estava repleta de porta-retratos com fotos de crianças. Muitos. Demais, até. Para desviar sua atenção de meu nervosismo, perguntei: "Filhos?" Funcionou. Daí em diante só ele falou. Aprendi tudo sobre o parto e currículo escolar de cada um. Mas fui contratado.

Um bom profissional pode ser traído pelo currículo. Como aquele que começa informando o nome do pai e da mãe, endereço e número do certificado de reservista. Só serve para emprego de mercenário e as informações só serão importantes se a empresa precisar devolver o corpo. Informar as palestras que você assistiu também não ajuda. Se ajudasse, eu hoje seria presidente dos Estados Unidos.

Coloque-se no lugar do empregador. Ele quer alguém para suprir necessidades. Descubra quais são e faça de seu currículo uma caixa de sucrilhos. Aquilo que todo mundo lê, mesmo sabendo o que vai encontrar ali. Fortalece, emagrece, embeleza e esconde um prêmio surpresa. Mostre logo de cara o que tem para dar, não o que quer receber. Dizer que quer trabalhar para aprender é queimar o filme. Empresa não é escola e empresário não é tutor. Ninguém compra faca para amolar.

Não se preocupe com salário. Você sempre irá ganhar mais do que merece e menos do que consegue gastar. Mostre estilo. Não importa se vai trabalhar em Hollywood ou num circo, tem que ser artista. Cative as pessoas, demonstre ser o melhor em sua área. Ou perderá seu lugar para quem sabe menos e mostra mais. Não estou sugerindo que fique cheio de si. Ao contrário, olhe no espelho e diga: "Sou um lixo". E corra se reciclar.

Ter estilo não significa esconder a falsidade sob a capa da verbosidade, como fazem alguns políticos. A câmara dos vereadores de uma cidade vizinha ficou famosa pelo estilo de seus participantes. Um vereador, querendo alfinetar o colega, disparou com pompa e estilo: "Vossa Excelência dá uma no cravo e outra na ferradura." E recebeu o troco: "Mas Vossa Excelência não pára de mexer o pé!".

Mario Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Veja emwww.mariopersona.com.br

Esta crônica de Mario Persona pode ser publicada gratuitamente como colaboração em seu site, jornal, revista ou boletim, desde que mantidas na íntegra as referências acima. 


Aprenda a se comunicar melhor, com mais criatividade e credibilidade, aprimorando sua capacidade de oratória. Em um curso de oito horas de vídeo Mario Persona compartilha sua experiência e conhecimento adquiridos em mais de vinte anos de palestrante.

Conheça agora mesmo

 

 

contato@mariopersona.com.br

(19) 9 9789-7939

Redes sociais Instagram Twitter Linkedin Youtube

www.mariopersona.com.br

Site desenvolvido por www.auranet.com.br