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Só dói quando não rio

Só dói quando não rio

Era só o que faltava. Um artista decidiu lançar um concurso de cartoons anti-semitas. É sua resposta ao jornal iraniano que promoveu um concurso igual em represália à publicação de charges ofensivas ao mundo islâmico. Detalhe: o artista é judeu.

Segundo o moço, ridicularizar seu próprio povo é a melhor forma de protestar contra os protestos dos muçulmanos. Uma espécie de autoflagelo artístico-político-religioso-cultural. Mas existe uma estratégia aí. Quando judeus decidem ridicularizar judeus, quem tentar fazer o mesmo só estará ajudando a causa. Deixa de ser oponente, vira aliado.

A idéia não é nova. O princípio é o mesmo do homem-bomba que se explode levando consigo dezenas de inocentes. Quem seria capaz de aplicar a pena máxima por homicídio em quem já tomou essa providência? A auto-imolação, o auto-flagelo, a auto-ridicularização — cada uma delas é uma ação que desmonta qualquer reação.

Isto se aplica a diversas situações da vida. Pessoas que se ridicularizam não são ridicularizadas. Lembro-me de um colega de escola que vivia fazendo gozação de si mesmo. Era um verdadeiro palhaço. O resultado? Qualquer pessoa que aparecesse na aula despenteado, fora de moda ou com um ridículo pelinho candidato a barba no queixo era imediatamente ridicularizado. Ele não. Ridículo já era sua condiçãodefault.

O auto-ridicularizado não sofre. Quando percebe que vai sobrar pra ele, vai logo dizendo:

— Chefe, sou uma anta! Uma mula! Não mereço viver! Como fui fazer uma besteira dessas? Pode bater, chefe, bate com força que eu mereço.

Quem vai bater num cara assim? Ninguém. Se o chefe for coração mole é capaz até de ficar ali consolando o rapaz:

— Deixa disso, coisas assim acontecem, você até que tem talento, é só prestar mais atenção...

É bom rir de si mesmo. Não dói. Eu faço isso com freqüência e, confesso, motivo é o que não falta. Até nas minhas palestras eu começo falando de alguma situação constrangedora e faço pouco de mim antes que a platéia o faça. Sigo tranqüilo, na certeza de que ninguém vai me achar pior do que eu já me achei.

Faça o mesmo. Da próxima vez que der com a testa em um poste, caia na gargalhada. Se olhar ao redor, verá que não está sozinho. Quem não se ridiculariza sofre. Pessoas com medo do ridículo geralmente são inseguras, precisam provar algo para si mesmas e mascarar seus grilos. É provável que sejam do tipo que vive distribuindo pancada, se defendendo ou procurando alguém para culpar.

Você deve conhecer alguém assim. Nunca admite a culpa, nunca se curva diante da crítica, é prepotente e faz uso da força bruta, do cargo ou do berro para intimidar e prevalecer. Gente que compra anti-ácido por assinatura, discute com mendigo e buzina em congestionamento. Vira os olhos, bufa, sapateia e precisa sempre ter alguém por perto para culpar.

Vi um cara assim. Ele tinha estacionado seu Fuscão reluzente em local proibido, numa praça no centro de Santos, perto do cais. O carro ficou com a frente para a praça e a traseira para um big poste assentado em uma ilhota de calçada. Quando passei, ele discutia com o guarda que o multava.

— O senhor sabe com quem está falando? Isso não vai ficar assim! Sou amigo de fulano!

O guarda não estava nem aí. Fazia-se de surdo e mandava ver na caneta. Distraído pelo orgulho ferido, o homem entrou no Fuscão, deu partida, engatou ré e acelerou.

O poste nem balançou quando a traseira o abraçou e o motor do Fuscão decidiu ir sentar no banco de trás. Diante do estrago, e sem poder descarregar sua ira na autoridade que rolava de rir, o jeito foi chutar o poste e a xingar sua progenitora. Se é que poste tem mãe.

Mario Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Veja emwww.mariopersona.com.br

Esta crônica de Mario Persona pode ser publicada gratuitamente como colaboração em seu site, jornal, revista ou boletim, desde que mantidas na íntegra as referências acima. 


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