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Pirâmide à cambalhota

Pirâmide à cambalhota
por Mario Persona

Prato do dia: "Pirâmide à Cambalhota". Onde? Em seu jornal. Página? Oras, em todas. Trata-se da pirâmide invertida usada na redação da notícia. Montar um jornal é como montar um quebra-cabeça. Não é nada fácil fazer textos e anúncios se encaixarem direitinho para evitar espaços em branco ou sobrar letrinhas. Aí entram os truques do ofício.

Um artifício é mexer no tipo, tamanho e espaçamento da fonte, que é a letrinha que você lê. Outro truque é o da pirâmide invertida. Hein? Pense numa pirâmide invertida. Pensou? Agora imagine ela fatiada. Imaginou?

A primeira fatia, lá em cima, é a mais larga, mais grossa, mais suculenta. Hmmm...! Contém a parte principal da notícia, o filé. Título, subtítulo e primeiro parágrafo dão o recado. Tudo o que precisa ser dito está ali. A fatia logo abaixo, menos densa, repete tudo com outras palavras e acrescenta alguma informação menos relevante. E assim vai.

À medida que você desce, a importância dos parágrafos diminui. O texto que sobra no cumezinho da pirâmide lá em baixo é perfeitamente descartável. Todos os outros, com exceção dos primeiros, também. Moral da história: o jornalista escreve a síntese da notícia logo de cara e depois vai repetindo com outras palavras o que já disse.

No português do Dicionário Houaiss isso é chamado de tautologia, "o uso de palavras diferentes para expressar uma mesma idéia". Em português de açougue isso é encher lingüiça. Não entendeu? É dizer a mesma coisa de outra maneira.

Isso serve para facilitar na hora de podar a notícia e completar o quebra-cabeça da página. Chegou notícia de última hora para encaixar? É só podar as outras de baixo para cima que não vai fazer muita diferença. E o que isso tem a ver com você?

Bem, se não quiser perder tempo lendo jornal, leia apenas o título e um ou dois parágrafos para conversa suficiente para jogar fora na roda de amigos. Mas não é só o leitor avisado que está fazendo isso.

Toda essa nova geração de Internet que escreve 'você' como 'vc', 'teclar' como 'tc' e 'demais' como 'd+' também lê assim. E acha 'blz'. Essa geração é sintética na comunicação e não vai perder tempo lendo ou ouvindo aquele lero-lero da comunicação convencional.

Pra começar, a garotada que mamou no mouse não lê como eu leio. Aprendi a ler da esquerda para a direita e de cima para baixo. Letrinha por letrinha. Só que o cérebro não funciona tão linear assim. Ele processa um montão de coisas simultaneamente, umas aqui perto da orelha esquerda, outras lá sob aquela clareira no topo, e mais um bocado logo acima da nuca. E como você acha que o garoto da geração videogame lê páginas de Internet?

Não lê. Ele faz uma varredura aleatória e alternada, como se estivesse esperando um míssil sair do canto, um buraco surgir no piso da tela ou um caça aparecer no centro. Do jeitinho que o cérebro faz em uma tela multidimensional. E daí?

Daí que se você quiser se comunicar com a nova geração vai precisar criar mensagens coloridas, sintéticas e cheias de emoção. Vai falar e escrever com o grafismo de um videogame, o minimalismo de um chat e o romantismo de um arrepio. Ou seu cliente vai clicar na voz do concorrente.

Informação não é mais importante. Há toneladas dela disponíveis por aí. Virou commodity, carne de vaca, arroz de festa. O que importa agora é o que importa. O resto é cume de pirâmide invertida.

Mas não pense que mensagem sintética seja o mesmo que mensagem mutilada. Não é. Sua síntese deve conter todas as letras para evitar algum mal-entendido.

Nem imagino a crise conjugal que uma coluna social pode ter causado com a falta de uma letrinha -- um tesinho pequenininho assim, ó. Sob a foto de uma sorridente futura mamãe que aguardava a chegada do encantador filhinho Rodrigo, vi uma legenda que dizia:

"Verônica aguardando ansiosa a chegada do encanador Rodrigo".


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