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Homem do Ano: Eu?!

Homem do Ano: Eu?!
por Mario Persona

Isso mesmo. Fui escolhido para ser capa da revista Time em sua edição de "Homem do Ano" de 2006. Ou "Pessoa do Ano", já que em 1999 a revista decidiu trocar "Homem" por "Pessoa" para evitar constranger mulheres escolhidas para "Homem do Ano".


Mas não estou sozinho. Você está na capa comigo. Foi o ano do conhecimento coletivo, da interatividade de incógnitos e da notoriedade de anônimos na Web. Daí a chamada da capa, que também serve de porta-retratos: Person of the Year: YOU. Yes, You. You control the Information Age. Welcome to Your World."

Você participou? Sim, se criou um blog que duas pessoas já leram, pagou um mico dançando no YouTube e encontrou a namorada de infância no Orkut. Ou vendeu pamonha no MercadoLivre, copiou o trabalho de escola da Wikipedia e ligou para a avó no Skype.

Tudo isso é apenas uma colherada da "Geléia Geral" que o Gil cantou, onde "quem não dança não fala, assiste a tudo e se cala". É claro que muita gente ainda reluta em participar com medo de dançar.

Antigamente o "Homem do Ano" era alguém com cara e bigode que, bem ou mal, causasse um impacto significativo na história da humanidade. Hitler foi "Homem do Ano" de 1938. O desenho da capa, com estilo de quadro da Inquisição e cadáveres pendurados, traz a legenda: "From the Unholy Organist, a Hymn of Hate. Hitler in History Project."

Agora, graças à tecnologia, a bola está no pé de todos, e não apenas de alguns. O solitário perdeu seu lugar na capa, pois é difícil alguém fazer uma parte sem influenciar o todo. Até quando você compra na Amazon deixa pegadas de seu DNA virtual que são analisadas e usadas para descobrir parentes do gosto seu. E oferecer seus produtos para eles.

Nossa! Quem vende não dá ponto sem nó e quem compra não passa despercebido por essa rede de nós! Quanta coisa mudou desde a primeira capa, de 1927, que trazia Charles Lindbergh como "Homem do Ano". O que ele fez? Atravessou o Atlântico solitário.

Mas, se a rede tem seu lado honesto, tem também seu avesso funesto. A falsa sensação de anonimato e impunidade faz muita gente trocar as pegadas dos pés pelas pegadas das mãos. Meninos classe média-alta algemados não costumavam aparecer nos telejornais.

Poucos se dão conta de que o mais cuidadoso e anônimo navegante deixa pegadas por onde passa. A tecnologia é uma faca de dois legumes e, dependendo de como você se comporta, pode acabar ficando com o pepino.

E não precisa ser tecnologia sofisticada, não. Basta um simples microfone sem fio, igual ao que o rapaz instalou em minha lapela antes de uma palestra, para gravar minha voz em sua câmera de vídeo. Para o som do palco eu usaria um microfone de mão.

Enquanto eu aguardava nos bastidores, um cidadão se aproximou. Após se apresentar e trocar dois dedos de prosa, por alguma razão achou que precisava me impressionar. Então, assim do nada, começou a descrever em detalhes suas aventuras extraconjugais com as damas da noite social.

Eu ainda me perguntava se o homem estava senil ou era apenas um depravado básico, quando o mestre de cerimônias livrou-me da situação anunciando meu nome.

Entrei no palco, recebi o microfone de mão e, quando ia ligar o microfone da câmera, vi, lá no fundo do auditório, o sorriso maroto do cameraman. Espremida entre dois enormes fones de ouvido, sua cara, vermelha de rir, era só satisfação.

Entendi no ato. O microfone da câmera tinha ficado o tempo todo ligado nos bastidores e as aventuras do Don Juan foram devidamente gravadas pelo cameraman.



POSFÁCIO

Você deve estar cansado de mensagens de Feliz Ano Novo, não está? Então, se não estiver pode ler o que rabisquei em um blog onde costumo meditar nos quadros que um Pintor costuma entregar em minha janela.

O assunto de hoje é mais light porque muitos de meus leitores ainda estão digerindo o o Peru. Minha mãe dava pinga para o peru antes da execução e era hilário vê-lo trançando as pernas. Minha mente infantil achava que era por isso que os convidados também ficavam meio grogues depois da festa.

No programa do David Letterman ele disse que para evitar o sono que dá depois de comer muito peru, sua mãe, antes de assar, deixava o peru de molho em Red Bull.

Eu já tinha publicado esta crônica que exalta a criação solidária em detrimento da criação solitária, quando encontrei a frase abaixo. É provável que eu venha a analisar com carinho isso em uma próxima crônica, já que o solitário não exclui o coletivo. É apenas o pontapé inicial do processo.:

"Nossa espécie é a única criativa, e ela possui o único instrumento criativo, o espírito e a mente individuais de um ser humano. Jamais algo foi criado por dois homens. Não existem boas parcerias, sejam elas na música, arte, poesia, matemática ou filosofia. Uma vez que o milagre da criação tenha ocorrido, o grupo pode construir e expandi-lo, mas o grupo nunca inventa coisa alguma. A preciosidade está na mente solitária de um homem". John Steinbeck, "East of Eden", 1952.


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