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FALAR EM PÚBLICO e ORATÓRIA – Entrevista de Mario Persona – Revista Medical

ENTREVISTA

O que um médico deve saber para falar em público


Como o médico deve se comportar na hora de falar?

Mario Persona - O médico deve se apresentar consciente de que seu conteúdo é o mais importante, mas a forma também pode ajudar ou atrapalhar na compreensão da mensagem. Por isso ele deve analisar muito bem sua audiência antes de preparar sua mensagem. Se ela for formada por pessoas leigas, ele tem a obrigação de ser um tradutor. Os termos e expressões de sua profissão, que podem ser banais entre médicos, acabam se transformando numa língua alienígena para os não-iniciados.

Alguns acreditam que manter os termos científicos cria uma aura de respeitabilidade e distinção. Bem, se ele está tão preocupado assim com sua imagem ao ponto de estar disposto a comprometer o entendimento de sua mensagem, então seu foco não está na audiência e em suas necessidades, mas em si mesmo. Este é um erro comum e demonstra insegurança e necessidade de auto-afirmação.

Falar em público não é muito diferente de vender um produto. Temos uma clientela e devemos nos desdobrar para entendê-la, descobrir seus desejos e expectativas, e traduzir nosso produto, no caso a mensagem, da melhor maneira para que todos saiam satisfeitos.

Um médico que não se expressa muito bem pode prejudicar a freqüência de sua clientela?

Mario Persona - Eu, que estou sempre do outro lado da mesa quando o assunto é medicina, percebo que os piores médicos são os menos capazes de criar empatia. Digo "piores" não no sentido de sua capacidade profissional, mas em termos de imagem e percepção. O profissional pode ser o melhor do mundo, mas ele não deve se esquecer de que está vendendo um serviço. Por isso, se na percepção do cliente, que não entende coisa alguma de medicina, ele for considerado medíocre, é essa a imagem que será divulgada no círculo de relacionamento daquela pessoa. Se ela gostar do médico, vai querer falar com orgulho dele, usando a expressão "meu médico".

Uma vez, procurando no guia de médicos de meu plano de saúde por um neurologista para me atender, liguei para minha mãe e fui recitando os nomes que encontrei ali. Ela foi dando sua opinião do tipo "ótimo", "regular", "ruim", ou "nunca ouvi falar". Quando cheguei em um nome, ela disse: "Esse aí é péssimo, não vá nele". Perguntei a razão e ela disse que minha irmã tinha se consultado com ele e o achou péssimo.

O ponto é que minha irmã não é médica, não entende da área de saúde e não tem qualquer capacidade técnica para julgar um neurologista. Ele podia ser o melhor do mundo, mas ela não gostou de seu atendimento, e isso foi suficiente para eu riscar o seu nome. Muitas vezes um excelente profissional é descartado pelo cliente que prefere um profissional menos capacitado, mas com uma melhor capacidade de comunicação e, principalmente, de criar empatia.

O que fazer quando se tem medo de falar em público?

Mario Persona - O medo não deve ser eliminado, mas administrado para se transformar em aliado. O orador deve aprender a transformar a adrenalina liberada pelo medo em energia para sua comunicação. Uma pessoa com medo pode superar desafios, como acontece nas Olimpíadas. Os atletas se superam quando existe pressão, e não é diferente na atividade de falar em público.

O médico deve ter em mente que sua atividade principal não é falar em público, isto é, ele não precisa ser um grande orador ou palestrante. Ele precisa ser muito bom naquilo que faz, no exercício de sua profissão, mas não deve se preocupar em ser um exímio palestrante, porque não é sua área e nem sua responsabilidade. Conscientizar-se disso pode ajudar bastante a eliminar uma cobrança excessiva de si mesmo na hora de falar, reduzindo o estresse e gerando melhores resultados.

O que mais atrapalha quem fala em público é o medo de se expor, de achar que as pessoas estão reparando naquele fio de cabelo fora do lugar, no gaguejar ou nas mãos trêmulas. Quem fala tem uma percepção muito maior desses detalhes do que o público, que está prestando atenção na mensagem. A mensagem, esta sim, é o recheio de uma apresentação e deve ser interessante o suficiente para atrair e cativar a audiência.

Uma boa técnica para se eliminar o medo é não começar logo com o assunto, mas criar um preâmbulo para falar de si mesmo, de sua família, de seu time de futebol e outras amenidades. Essa técnica reduz a tensão do orador e também permite que o público o veja como um ser humano e passe a relevar suas falhas.

Além disso, começar falando daquilo que você está acostumado a falar, daquilo que é capaz de falar até dormindo, evita aquele branco na memória que é o pavor de todo orador. É muito mais tranqüilo falar sem gaguejar de um assunto corriqueiro. Depois desse aquecimento fica fácil fazer a transição para o assunto da palestra.

Como o médico deve se relacionar com a imprensa?

Mario Persona - A profissão do médico impõe limites quanto ao nível e tipo de exposição que pode ter, por isso ele acaba ficando em desvantagem em relação a outros profissionais que têm liberdade para fazer propaganda de seus serviços sem qualquer restrição. Muitas formas de propaganda na área de saúde acabam esbarrando no código de ética da profissão.

Por isso o médico deve saber aproveitar muito bem as possibilidades de se expor e promover sua capacidade profissional, sem caracterizar isso como propaganda ou se transformar numa máquina de lavar roupa ou em um pacote de sabão em pó aos olhos de seu público. O relacionamento com a imprensa é importantíssimo neste sentido.

As pessoas querem saber mais sobre saúde, e a imprensa é a ponte que liga o público leigo ao profissional de saúde, portanto ela deve ser vista sempre como aliada do médico. Mas, para que a imprensa saiba que o médico existe e se interesse em entrevistá-lo, é preciso que ele já tenha alguma exposição na mídia.

Isso pode ser facilmente conseguido hoje, pois há muitas revistas e jornais regionais ou locais, além de sites na Web, dispostos a ceder espaço para colunas de saúde. Se o médico souber se articular bem e, principalmente, traduzir seu conhecimento para a linguagem do leitor comum, ele pode conquistar esse espaço. Mesmo que não seja um exímio escritor, ele sempre pode lançar mão de um ghost-writer para ajudá-lo nessa tarefa.

Outra possibilidade é ter um site ou blog na Web e alimentá-lo regularmente com informações relevantes. Não estou falando de atender clientes, consultar ou ensinar as pessoas a fazerem curativos ou cirurgias na mesa da cozinha, mas de informações básicas e interessantes sobre os cuidados com a saúde, prevenção de doenças ou as conseqüências da falta desta.

Sei que há médicos que desdenham e chamam esse tipo de comunicação de "medicina-pop", algo como baixar o nível da medicina para o patamar do cidadão comum. Considerando que é o cidadão comum quem paga suas contas, o profissional deve procurar uma forma de fazê-lo sem diminuir a importância de sua profissão ou cair na vala comum do curandeirismo ou da banalização daquilo que é complexo.

A dificuldade em enxergar o valor disso está na concepção errônea que muitos têm da medicina, que por séculos foi tratada como uma atividade para curar doenças e não para preservar a saúde e ganhar em qualidade de vida. Esta é a abordagem à qual me refiro quando o assunto é exposição e comunicação com o público.

A grande vantagem de ter um site é que os jornalistas, quando têm uma pauta sobre um determinado assunto, se valem da Internet para suas pesquisas, e se a página do médico lhe ajudar na hora de escrever sua matéria, o jornalista poderá acabar entrando em contato com o médico para uma entrevista. Quando o jornalista fica satisfeito com a qualidade da fonte, acaba anotando aquele nome em seu caderninho e voltando a procurá-lo sempre que tiver uma pauta relacionada a saúde.

Nem é preciso falar que no relacionamento com a imprensa o médico deve ser o mais claro e simples possível em sua comunicação. Jargões médicos precisam ser traduzidos em linguagem do dia-a-dia, até para não correr o risco de serem erroneamente interpretados pelo jornalista, que não é um profissional de saúde. Se o assunto for complexo, é melhor que o médico peça ao jornalista para enviar as perguntas por e-mail e fazer a entrevista por escrito, para evitar perder algum conceito importante ou que a mensagem chegue distorcida ao receptor.

Como durante esse processo de entrevista, tradução e preparação de uma matéria podem ocorrer equívocos, o médico não deve se desesperar caso descubra que o que disse foi distorcido ou publicado com erros. Antes de qualquer coisa ele deve analisar se foi um erro grave ou algo que poderá passar despercebido pela maioria das pessoas.

Se foi grave, ele pode pedir a publicação de uma errata, mas isso também precisa ser feito com muito tato para não criar uma animosidade com a imprensa. Lembre-se de que estamos falando de criar um bom relacionamento com a imprensa para ser sempre procurado e seu nome estar sempre em evidência, não em brigar com ela para acabar riscado do caderno dos jornalistas.

Quais os cuidados que o médico deve ter na hora de seu discurso ou palestra, para não prejudicar a sua imagem?

Mario Persona - Analisar o público, a ocasião, os objetivos e tudo mais. Ele vai vender um produto que são suas idéias entregues ao público por meio de sua mensagem. Deve fazer isso da maneira que traga melhores resultados e maior satisfação para os ouvintes. Sua imagem pessoal deve ser trabalhada e sua oratória também, já que ambas podem ser consideradas uma espécie de capa do conteúdo que tem para apresentar.

Isso exige algum treino e não há lugar melhor para fazer isso do que diante do espelho. Pode parecer algo bobo e infantil ficar falando para ninguém no banheiro de sua casa, mas é muito mais seguro fazer papel de bobo na privacidade de seu banheiro do que diante de uma audiência de trezentas pessoas.

O médico pode ensaiar na privacidade de seu espelho para analisar sua postura e expressões, além de timbre de voz e articulação das palavras. Se puder gravar ou filmar a si mesmo, o que hoje é muito fácil de fazer, poderá analisar o resultado, fazer correções e pedir críticas e sugestões à família. Até hoje eu analiso vídeos de minhas palestras para aprimorar minha comunicação, porque sempre posso melhorar em algum ponto.

Em meus treinamentos de comunicação oral costumo pedir aos participantes que venham à frente para falar sobre algo enquanto são filmados. Depois o vídeo é mostrado a ele e aos outros para que cada um discuta os pontos positivos e negativos e todos possam corrigir e aprimorar sua postura, entonação, articulação e até os movimentos das mãos.

Há diversas dicas práticas que ele pode obter com a ajuda de um profissional ou lendo livros sobre o assunto. Uma é trabalhar a entonação da voz e aprender a fazer uso do silêncio para sublinhar suas palavras. Outra é decidir se deve falar de improviso, usar anotações ou slides, ou ainda ler um texto corrido. Cada forma tem vantagens e desvantagens.

Se pretender ler, nunca deve fazê-lo segurando uma folha de papel na mão, pois isso fatalmente irá denunciar qualquer tremor e comprometer a segurança e certeza que ele deveria transmitir. Aconselho o uso de pequenos cartões, que não denunciam o tremor das mãos.

Quais dicas para se organizar uma boa palestra?

Mario Persona - Preparar o modo como irá falar pode ser às vezes mais importante do que preparar o que irá falar. Toda apresentação deve ter um começo, meio e fim, e não ser uma montanha de informações jogadas aleatoriamente sobre a platéia. O médico deve ter em mente também que em um espaço de uma ou duas horas, ou às vezes até menos, ele não será capaz de cobrir toda a história da medicina, portanto deve decidir concentrar-se em um tópico de importância e orbitar em torno dele. É melhor que todos saiam com aquele tópico muito claro em suas mentes, do que sem tópico algum, depois de terem escutado um milhão de assuntos tratados superficialmente.

A preparação de si mesmo, de seu humor, de sua atitude é importantíssima. Evito escutar notícias no rádio do carro a caminho de alguma palestra para não chegar lá com cara de quem viu um fantasma, pois as notícias ruins acabam afetando nosso humor. Procuro ouvir música, lembrar coisas engraçadas, enfim, me preparar emocionalmente.

Sempre que possível o médico deve visitar o local onde irá falar, se tiver algum receio de falar em público. Chegar antes ao local, andar por ele, passear pelo palco e olhar detalhes da decoração, cria uma sensação de conquista de território que será bastante útil para sua segurança quando estiver no palco.

Se pretender usar apresentações em Power-Point, o médico deve se lembrar de que as pessoas foram até ali para ouvi-lo, não para ler um texto. Palestrantes que simplesmente lêem o que todo mundo está vendo na tela poderiam muito bem enviar a apresentação por e-mail e evitar que todos se locomovessem até ali. Os slides devem servir de "cola" ou espinha dorsal para o que tem a dizer, e não revelar o conteúdo ou o "pulo do gato" da palestra. O mais interessante deve sair da boca do Dr. Fulano, não do Dr. Power-Point.

O que evitar para que a sua palestra seja um sucesso?

Mario Persona - O médico deve evitar conversar com pessoas que queiram falar de problemas nos momentos que antecedem a palestra. Pela mesma razão que evito ouvir o noticiário antes de uma palestra, fujo de gente que puxa conversa para falar de problemas e notícias ruins. Peço licença e vou ao banheiro.

Por outro lado, ele deve procurar conversar com os presentes para sentir suas expectativas sobre o que realmente gostariam de ouvir, mas deve fazer isso naturalmente, sem parecer que está fazendo uma pesquisa de opinião pública.

O uso de microfones e manuseio das apresentações em computador devem ser treinado em casa, para não correr o risco de ter problemas de som ou perder minutos preciosos tentando descobrir onde foi parar sua apresentação no notebook, ou descobrindo que o CD onde gravou a apresentação não funciona ou o pendrive é incompatível com o equipamento do evento. Microfones podem se transformar em instrumentos de desastre, quando não são usados de forma correta.

Assim como o microfone ou as falhas técnicas podem acabar desviando a atenção do público, o mesmo acontece com vícios de linguagem, como o uso excessivo de "né", "ou seja" e outras expressões. Movimentos estranhos com o corpo, com os pés e com as mãos também são inimigos do orador. Quem fala em público deve se imaginar na tela de uma TV apresentando um telejornal.

Isto implica manter o público atento à sua boca e expressões, e aos movimentos de suas mãos, que devem ser mantidas dentro dessa "tela" de TV imaginária. Isso implica que as mãos não devem enfatizar a fala a menos que isso seja feito com elas acima da cintura para não desviar a atenção para muito longe do rosto do orador.

Finalmente, a melhor dica para uma palestra de sucesso é criar um início atraente o suficiente para conquistar a atenção do público, e um final surpreendente porque geralmente é a primeira e a última impressão que permanecem. E, de preferência, manter esse início e esse fim bem próximos um do outro para não cansar os ouvintes.

Entrevista concedida para a revista Medical em 28/04/2008 para matéria sobre técnicas que um médico pode empregar para melhor se expressar em público.

Entrevistas como esta costumam ser feitas para a elaboração de matérias, portanto nem tudo acaba sendo publicado. Eventualmente são aproveitadas apenas algumas frases a título de declarações do entrevistado. Para não perder o que eu disse na hora, costumo gravar ou dar entrevistas por escrito. A íntegra do que foi falado você encontra aqui.

Mario Persona é consultor, escritor e palestrante. Veja emwww.mariopersona.com.br

 


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