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Entrevista para matéria sobre a China e a carreira na Revista Amanhã

ENTREVISTA

Devemos aprender mandarim?

 

Entrevista Revista Amanhã - Negócios na China Fui entrevistado pela revista Amanhã para uma matéria sobre os negócios na China e a carreira profissional. A íntegra do que falei você encontra aqui:

Revista Amanhã - O senhor, sendo um consultor de planejamento de carreira, aconselharia um jovem profissional a aprender que língua: inglês ou mandarim? Por quê?

Mario Persona - Se ele tiver tempo, o ideal seria aprender as duas. O inglês é, há muito tempo, a língua universal por ser a língua dos negócios, do dinheiro. Ainda que a China continue a ganhar terreno no cenário mundial, boa parte do que se fabrica por lá é ditado e comprado por empresas em outras partes do mundo que têm o inglês como idioma comercial.

Alguém que saiba inglês já está bem equipado para trabalhar em qualquer lugar do mundo, inclusive na China ou em empresas chinesas, mas se souber mandarim, melhor. Se um empregador envolvido em negócios com a China precisar decidir entre dois profissionais igualmente competentes, a escolha poderá recair naquele que souber mandarim.

Digamos que o inglês é a garrafa de água que todo profissional precisa levar para se aventurar no deserto dos negócios, e o mandarim é o isopor para mantê-la gelada. A primeira é essencial, você não sobrevive sem ela. O isopor é desejável e pode facilitar em muito sua jornada, mas você não teria sua vida facilitada se levasse apenas ele.

Revista Amanhã - Quais seriam as vantagens de um profissional com o mandarim? Ele tem um diferencial ou o inglês o deixa atrás dos demais na corrida pelos melhores empregos?

Mario Persona - Na época do milagre japonês, muita gente procurou aprender o idioma japonês e acabou se dando bem em empregos e negociações que envolviam empresas daquele país. Hoje o interesse em aprender japonês é mais para quem quer ir viver e trabalhar no Japão, já que o idioma não se firmou como uma tendência mundial. Já não se busca aprender a língua como um diferencial ou esperando que ela venha a ser falada em outros países além do Japão.

Acredito que o mandarim siga o mesmo caminho. Na época do milagre japonês, quem pagava pelos produtos estava nos países que utilizam o inglês como idioma comercial e o mesmo deve acontecer com a China. Os clientes da China falam inglês e é por isso que até mesmo os chineses hoje estão empenhados em aprender inglês. Quem detém o poder impõe a língua. É claro que é preciso também ter em mente a área de atuação para saber o quanto o aprendizado de um idioma pode pesar na carreira.

Há dois mil anos o mundo tinha três idiomas correntes. Havia o latim, o idioma político e comercial imposto pelo Império Romano em suas conquistas, e o grego, mais usado como idioma cultural, da ciência, filosofia e literatura. Este era, na verdade, um resquício do domínio Grego sobre o mundo de então.

Além desses dois, havia sempre algum idioma local, já que os romanos preservavam a cultura, religião e até mesmo os governantes locais como forma de manter a paz. Um caso clássico disso aparece no texto trilíngue pregado sobre a cruz de Jesus. A mensagem ali estava escrita em latim, grego e hebraico.

Há pouco mais de um século tínhamos também três idiomas usados no mundo, o nativo, o francês para literatura e cultura, e o inglês para o mundo dos negócios. Este último foi substituindo o francês à medida que o Império Britânico, e depois os Estados Unidos, imprimiam seu poder nas transações mundiais. Hoje o francês é mais visto em cardápios ou impressos dos Correios.

Revista Amanhã - O aumento da procura pelo mandarim por profissionais americanos pode significar uma mudança no idioma dos negócios? Você acredita na perda da hegemonia do inglês?

Mario Persona - Particularmente não acredito. Ainda que a China cause um impacto grande nos negócios do mundo todo, e venha a ganhar espaço com seu idioma nas transações comerciais, a carga cultural norte-americana é muito grande, e aí estamos falando de toda uma mídia que não é controlada como é a chinesa. A liberdade de expressão gosta de adotar o idioma que lhe dê, obviamente, livre expressão.

O que acontece é que os profissionais americanos atuando em empresas que querem conquistar o enorme mercado latente na China obviamente procurarão aprender o mandarim para facilitar o caminho, ao mesmo tempo que os chineses aprendem inglês para conquistar clientes no mundo todo.

Mas há um processo que provavelmente já tenha começado e pode ganhar força com o tempo, e tem mais a ver com os chineses aprendendo inglês do que com os americanos aprendendo mandarim. Se ainda não for, logo a China será a maior população do mundo capaz de se comunicar em inglês, idioma hoje ensinado e incentivado nas escolas de lá.

Todos sabemos que o português falado no Brasil soa completamente diferente daquele falado em Portugal, e a exportação da cultura brasileira por meio de música, filmes e novelas para Portugal e outros países do mundo acabou influenciando o sotaque da língua, tendendo para o brasileiro.

Junte a isso o fato de estarmos falando de uma população de dez milhões em Portugal, com o sotaque original do idioma, competindo com uma população de quase duzentos milhões de brasileiros falando à sua maneira. Prevalece este sotaque, como prevalece hoje o sotaque norte-americano no inglês, em detrimento do britânico.

Mas em ambos os casos estamos falando de países com o mesmo idioma natal. Hoje o inglês é a língua natal de pouco mais de 300 milhões de pessoas no mundo todo, enquanto o mandarim é falado, como língua nativa, por quase um bilhão de pessoas. Com o incentivo ao aprendizado, não irá demorar para termos uma população de chineses falando inglês como segundo idioma que será maior do que os nativos que falam inglês.

Dada a grande diferença entre os idiomas, acredito que dentro de uns vinte anos ou menos teremos algo como duas línguas escritas no mundo, porém três faladas: inglês, mandarim e inglês com sotaque chinês. Quando isso acontecer, é melhor exumar o túmulo de Shakespeare e recolocar seu corpo na posição original, porque posso apostar que terá se virado no caixão.

[Nem sempre as entrevistas são publicadas na íntegra pelos veículos, por isso tomei a iniciativa de gravá-las ou anotá-las para compartilhar minhas idéias com um número maior de leitores.]

Mario Persona é consultor, escritor e palestrante. Veja emwww.mariopersona.com.br

 


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