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De volta para o futuro

De volta para o futuro
por Mario Persona

Dependendo do modo como você procura por uma palavra no Google, o sistema pode abrir um menu "drop down" com sugestões de busca. Quando digitei "France Telecom" o resultado foi macabro.

Dentre as possibilidades sugeridas estavam "france telecom suicídio", "france telecom suicídios", "france telecom suicides" e "france telecom sob pressão com onda de suicídios".

Clicando num link qualquer, descobri que mais de 20 pessoas se suicidaram naquela empresa em um ano, uma fatia considerável das estatísticas francesas para suicídios em ambiente de trabalho. Quem escolhe a empresa como palco para seu ato desesperado acredita que o trabalho seja mais importante do que a própria vida.

Em uma ação inédita, a Renault francesa foi responsabilizada pelo suicídio de um funcionário. A empresa foi condenada a pagar uma indenização simbólica à família, além de garantir uma pensão privilegiada. Isso pode virar jurisprudência, como já ocorre no Brasil com questões envolvendo o assédio moral. Empresas que causam constrangimento a um funcionário podem pagar caro por isso. E suicídio?

A família do funcionário pleiteava que o caso fosse tratado como acidente de trabalho. Dependendo do tipo de atividade ou da insalubridade do ambiente, o trabalho pode efetivamente representar um risco de vida. No caso ocorrido na França, pressão e estresse foram os fatores de risco.

Qualquer um sabe que chefe ruim causa úlcera, mas nenhum chefe, por pior que seja, imagina ver seu funcionário encerrar uma discussão saindo pela janela do quinto andar. Foi o que aconteceu com o chefe do homem que se suicidou. Eu não gostaria de estar na pele de nenhum dos dois.

A onda de suicídios na França pode ser consequência da globalização. Técnicas gerenciais importadas dos disciplinados japoneses podem causar rejeição quando transplantadas em outras culturas. Cada povo reage de maneira diferente à pressão. Em que país você acha que surgiu a expressão "bon vivant"?

Além disso, ao importar uma filosofia gerencial do Japão, existe o risco de se importar também o suicídio. Afinal, o Japão é quase um inventor do suicídio associado a uma causa. Muito antes dos radicais muçulmanos saírem se explodindo por aí você já tinha ouvido falar em Kamikaze e Hara-kiri.

Uma grande parcela dos suicídios no Japão tem mais a ver com a falta de trabalho do que com o excesso deste. Para um japonês é uma desonra ficar desempregado, e não raro o pai de família continua saindo e voltando para casa no horário habitual só para esconder que foi mandado embora. Isso quando volta.

Morrer do trabalho não é exatamente uma forma inteligente de resolver o problema. Se eu trabalho para viver, como posso deixar meu meio de vida se transformar em meio de morte?

Pessoas que se matam por causa do trabalho, ou por qualquer outro motivo presente, se esquecem de que o problema, que hoje parece uma bomba atômica, no futuro pode não passar de um traque. Winston Churchill disse: "Se arranjarmos briga entre o passado e o presente, descobriremos que perdemos o futuro". Se você ler o livro de Jó, ícone do sofrimento humano, verá que muitas vezes ele quis morrer, mas nunca cogitou tirar a própria vida. Essa decisão - ele sabia - cabia a Deus.

Não há nada melhor do que o tempo para nos dar uma perspectiva real das coisas. Eu não acredito que Romeu e Julieta teriam se matado cinquenta anos depois. Uma Julieta flácida e um Romeu careca e barrigudo não seriam um motivo forte o suficiente para alguém tomar veneno.

Não são apenas as circunstâncias que mudam com o tempo. Nós mudamos e nossa maneira de encarar as coisas também. Às vezes tento imaginar o que aconteceria se eu viajasse numa máquina do tempo para me encontrar comigo no passado. Só de pensar me vem à memória uma cena do filme "A dona da história", na qual o cinquentão Antonio Fagundes diz a Marieta Severo algo mais ou menos assim:

"Você quer mesmo que eu me divorcie de você e arranje uma menina de vinte anos que vai me deixar louco em um mês?"

O mesmo aconteceria se eu me encontrasse comigo no passado. Eu me deixaria louco. Das duas, uma: ou eu acabaria comigo, ou viajaria imediatamente de volta para o futuro. Fico com a segunda opção. O futuro é sempre um lugar melhor.


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