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Curto-circuito – Crônica

Crônicas para ler no café cfe

Curto-circuito

Se havia algo que me dava prazer na escola era caderno novo. A capa imaculada, as folhas brancas, o cheiro desbolorizado — tudo servia para estimular um novo começo. Passar a mão espalmada sobre a primeira página era como acariciar um bólido reluzente. Sem páginas viradas, tudo trazia aquela adrenalina da hora da largada.

"Desta vez vou caprichar na letra" — prometia. A capa? Revestida de papel impermeável azul, verde, amarelo ou vermelho, parecia cor de escuderia. Era só no quarto ano do grupo escolar que a gente podia correr de Ferrari. Antes da largada examinava os instrumentos — lápis, borracha, régua — no estojo e prometia não rasgar nas retas, não rasurar nas curvas, não zerar nas notas.

Que existe boa vontade e potência na largada, isso ninguém pode negar. Todo início é assim: investimos o melhor de nós, alertamos todos os sentidos, damos o máximo. Há um fator psicológico muito forte envolvido em tudo que começa e deve ser aproveitado. É o que pretendo fazer no primeiro dia da próxima semana, do próximo mês, do próximo ano. Não é assim que a gente faz? O primeiro — seja lá o que for — a gente nunca esquece. Ainda que fique só na promessa.

Você iniciaria um curso em dezembro? Loucura. Dezembro é hora de terminar, não de começar. É o último mês do ano, a última volta do circuito, todo mundo de olho na bandeirada. E regime, já pensou em começar no sábado? Nem pensar. No domingo? Também não. Apesar de ser o primeiro da semana, o dia está tradicionalmente associado ao descanso, uma espécie de parada nos boxes para encher o tanque. A largada fica mesmo para a segunda-feira.

O início da semana é um dia de começo, é ponto de partida, hora de sair da inércia e acelerar. O primeiro do mês também. O mesmo vale para bimestre, trimestre ou semestre. O calendário e suas largadas têm um impacto tremendo sobre nós. É natural acelerarmos em períodos assim e chega a ser uma arte identificar as possíveis linhas de largada nas confusas pistas da vida e dos negócios.

É aí que entra minha teoria da largada. Uma linha de partida que seja reconhecida como tal no calendário pode injetar vigor em qualquer processo, projeto ou tarefa. O contrário funciona ao contrário. Começar pelo fim pode exigir começar de novo. Você já pensou nisso? É preciso atenção na hora de escolher princípios.

Se não dá certo começar algo no princípio de dezembro, também não vai funcionar marcar algo para depois de um feriado. Dezembro é o fim de um circuito maior no qual o mês está inserido e o primeiro dia após o feriado é o princípio de coisa nenhuma. Partir fora da hora culturalmente demarcada é queimar a largada. Só vai atrasar a corrida.

Então, se o ano é o maior circuito do calendário, nada melhor do que escolher a sua largada para acelerar os grandes planos e realizações. Quanto maior o circuito, maior a aceleração obtida numa largada estendida, maiores as chances de sair da inércia, melhores as condições para se criar momento. Não existe um circuito mais longo que o ano no calendário das provas da vida.

Era o que eu pensava em voz alta, quando meu filho pôs um fim ao meu princípio:

— Pai, não se esqueça do carnaval. É curto o circuito.

Mario Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Veja emwww.mariopersona.com.br

Esta crônica de Mario Persona pode ser publicada gratuitamente como colaboração em seu site, jornal, revista ou boletim, desde que mantidas na íntegra as referências acima. 

  


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