Você planeja, calcula e faz previsões. Elabora orçamentos, traça estratégias e neutraliza a concorrência. Engrossa a blindagem, burila o discurso e dá um trato na imagem. Tudo pronto, tudo controlado, tudo dominado, não há o que dar errado. Até as circunstâncias decidirem agir.
A campanha Obama-McCain à presidência dos EUA parecia indicar que tudo seria como dantes na terra de Abrantes. Barack Obama era indicação certa para o Oscar de melhor apoteose política na convenção democrática. A republicana... bem, a do herói veterano trombou com um furacão eslavo, o Gustav. As circunstâncias tomavam o palanque.
Circunstâncias mudam tudo. Por mais que você planeje, elas sempre estão lá, espreitando, conspirando e esperando a hora de entrar em cena e passar uma rasteira na lição de casa que você fez com tanto esmero. Sem elas a vida seria previsível, monótona e chata. Com elas... bem, voltemos ao assunto antes que algo me interrompa.
O Gustav nem tinha terminado de ventar quando outro furacão vindo do Alasca se abateu sobre os EUA e mudou o rumo da política. Quando os meteorologistas contaram ao McCain que os furacões mais poderosos têm nome de mulher ele invocou Sarah Palin, o furacão que veio do frio.
Mais uma vez as circunstâncias bagunçavam a arena e os holofotes eram desviados de Barack Obama para a "Hockey Mom". Quem melhor do que uma mulher jovem e cheia de filhos e energia para ser presidente dos Estados Unidos? McCain suspirou orgulhoso e voltou a dormir.
Perfeita para qualquer papel de mãe em filme da Disney, daqueles em que o cachorro é mais inteligente do que o dono, a candidata não contava com a astúcia das circunstâncias.
McCain nem bem se acostumara com a idéia de ser vice de sua vice e duas entrevistas de Sarah fizeram McCain se arrepender de não ter convidado a Lassie para sua vice. Na terceira entrevista ele apareceu ao lado da neta, só para garantir.
De repente ninguém mais se lembrava de contar piada de loira e Sarah virou a piada pronta do Saturday Night Live. Para imitá-la, Tina Fey não precisou nem de um script. Bastou repetir o que Sarah disse e o Youtube fez o resto.
Como desgraça pouca é bobagem, as circunstâncias assoviaram e o colapso financeiro veio correndo, pegando os candidatos e o mundo no contrapé. Se hoje o ditador da Coréia do Norte convidar os candidatos para um almoço com o Papa, Bono e Bin Laden, a imprensa nem vai reparar. As circunstâncias são o buraco negro das estrelas.
Mas se as circunstâncias zombam de uns, elas sorriem para outros. Do lado de baixo do Equador tudo é festa. O Lula do Brasil marca um gol atrás do outro e continua o favorito nas pesquisas. Se vier o terceiro mandato ele ganha para presidente e vice. As circunstâncias tiraram até a Seleção do páreo nas páginas dos jornais. Ninguém quer ser visto com ela; todos querem aparecer ao lado dele.
Enquanto a Justiça Eleitoral proíbe que os candidatos imitem sua voz no rádio, um deles reedita a velha piada do Papa aparecendo com um motorista que é a cara do presidente. Só falta a família real descobrir em sua árvore genealógica um ramo brotado no nordeste e "pronto", como dizem por lá. Pode providenciar um Sedex de Petrópolis para Brasília levando o trono e a coroa.
Enquanto a crise corre solta no norte, no sul é tudo de bom. O presidente do norte tenta desesperadamente assinar uma reforma financeira. O do sul garante sua vaga na Academia assinando a reforma ortográfica. O de lá manda imprimir mais dinheiro. O de cá imprime carteiras assinadas. Tudo o que o "Senhor das Armas" deles toca vira vinagre. Nosso "Midas do Saleiro" faz o que toca virar sal, com petróleo em cima e em baixo.
Não sei o que você vai fazer, mas eu já me decidi. Nas próximas eleições vou votar nas circunstâncias.
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