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Bajulação na empresa, como proceder? – Entrevista com Mario Persona para Jornal Mundo Corporativo da Unimed Londrina

ENTREVISTA

A bajulação na empresa

No universo empresarial, quais as principais atitudes que caracterizam uma bajulação, ou seja, como você definiria um puxa-saco? 

Mario Persona - O mundo corporativos abrange vários ambientes ou círculos de relacionamento, e há atitudes ou práticas que podem ser consideradas bajulação em determinados círculos, mas em outros não. Por exemplo, cobrir um cliente de gentilezas não é visto como bajulação, mas como bom atendimento. Todavia, cobrir um chefe de gentilezas pode ser interpretado como bajulação, ainda que nos dois casos o objetivo seja praticamente o mesmo: conquistar a outra pessoa a fim de se obter algum tipo de vantagem.

Se estamos falando exclusivamente dos relacionamentos no ambiente de trabalho, bajulação pode ser tudo aquilo que se faz para o outro com o objetivo de se obter alguma vantagem, e isso não é uma via de mão única, de baixo para cima, como muitos poderiam pensar. Por exemplo, um chefe pode bajular um subordinado para que este utilize o tempo pago pela empresa para executar tarefas particulares. Talvez uma forma de se medir o nível de bajulação possa ser detectar segundas intenções por trás de algum tipo de comportamento ou mensagem.

O que há por trás de uma pessoa que usa a bajulação para conseguir algum tipo de vantagem no trabalho? O que leva um profissional a ser um puxa-saco?

Mario Persona - Creio que a falta de sensibilidade seja o principal problema. Uma pessoa com sensibilidade pode bajular à vontade um chefe e não ser visto por este como um bajulador, pois conseguiu entender a personalidade do chefe e detectar nela uma grande necessidade de afago para o ego. Por outro lado, uma pessoa sem sensibilidade pode se dar mal ao fazer um elogio que seja a um chefe cuja personalidade é avessa a qualquer tipo de bajulação.

Portanto, a bajulação é relativa em muitos sentidos, não só em relação à pessoa bajulada como em relação aos observadores, para os quais um comportamento bajulador pode ter também diferentes graus, conforme o contexto cultural original da pessoa. É preciso entender também que numa sociedade cada vez mais globalizada teremos cada vez mais situações cuja interpretação irá depender de características culturais.

A ausência de um tratamento diferenciado e exagerado, que em uma cultura é visto como pura bajulação, pode ser interpretado como desprezo e insubordinação em outra cultura. No Brasil acharíamos exagerado, por exemplo, um subordinado fazer uma reverência, curvando-se diante de seu chefe, mas em alguns países do Oriente essa é uma prática comum e às vezes até obrigatória do ponto de vista de reconhecimento e submissão à hierarquia na empresa.

Qual a diferença entre tratar e elogiar as pessoas com simpatia do puxa-saquismo?

Mario Persona - Quando não existe um motivo, o elogio pode ser visto como bajulação. Se ele for repetitivo também. O chefe que vem trabalhar mais elegante em um determinado dia pode merecer ou até desejar ser notado por meio de um elogio. Mas o elogio diário para um chefe que se veste exatamente igual todos os dias acabará sendo interpretado como bajulação. Portanto, é preciso que exista um motivo para o elogio ou até para certas gentilezas.

Uma técnica que normalmente é utilizada por pessoas com habilidade para a comunicação e o relacionamento é fazer a bajulação com uma boa dose de bom humor, o que, dependendo do temperamento da pessoa bajulada, pode ser recebido de forma positiva. O bajulador está deixando claro que está bajulando, e o bajulado sabe disso e gosta.

Hierarquizado por natureza, o ambiente de trabalho é um campo fértil para a proliferação de bajuladores e bajulados. Em sua experiência como consultor, você já presenciou pessoas que ganharam espaço e tiraram proveito da bajulação com os gestores? 

Mario Persona - Percebo que gestores fracos são mais suscetíveis à bajulação e podem até corresponder com algum benefício para o bajulador, mas os melhores gestores sabem reconhecer um bajulador e podem até usá-lo quando for conveniente, fazendo o bajulador acreditar que está tendo sucesso em sua bajulação. A linha entre a bajulação e a gentileza é muito tênue. Os bajuladores que obtêm maior sucesso são aqueles que sabem fazer sua bajulação ser vista como gentileza ou até mesmo eficiência.

Por exemplo, nas empresas onde trabalhei eu sempre procurei me interessar pelos gostos de meus chefes. Tive um chefe que gostava de música, por isso eu sempre procurava trazer à tona o tema em nossas conversas. Outro, com quem às vezes viajava, gostava de teatro e espetáculos, e era essa a tônica de nossas conversas durante as viagens. Embora esse cuidado em dirigir a conversa possa ter algo de bajulação, é também um princípio de comunicação e relacionamento dos mais úteis em qualquer profissão. Qualquer vendedor sabe que, se quiser vender, terá de descobrir os desejos e expectativas do cliente e explorá-los ao máximo para oferecer algum benefício e encantar.

Por isso é preciso muito cuidado ao se colocar todo tipo de bajulação num mesmo saco, pois o profissional pode acabar se tornando insensível e hermético a qualquer relacionamento que vá além do formal. Ao fazer isso ele acaba perdendo boas oportunidades.

E o que dizer daquele gestor que bajula determinado funcionário em detrimento dos outros? 

Mario Persona - A bajulação é sempre um tipo de manipulação, que pode ser benéfica ou não. Por exemplo, se eu me interesso pelo hobby de meu colega e o estimulo a falar sobre isso por saber que irá criar uma maior proximidade, estou bajulando para algo construtivo, que é um melhor relacionamento. Não existe propriamente uma agenda ou uma meta de ganho em minha bajulação, além de promover um bom relacionamento.

O mesmo vale para o gestor. Ele deve sim se interessar pelos seus subordinados e até ser gentil com eles sempre que puder, mas o problema é quando existem interesses escusos envolvidos no relacionamento. Um gestor que cubra de gentilezas uma subordinada por ser ela a mais bonita da equipe poderá demonstrar uma parcialidade que não é compatível com o cargo que ocupa. Se tentar com isso obter algum tipo de favorecimento, pior ainda. Mas sabemos que isso acontece, e se pode trazer algum benefício para o subordinado, só prejudica a imagem que a equipe tem do gestor. E sabemos que um bom gestor deve cultivar uma boa imagem, se quiser que sua equipe seja produtiva e reconheça o seu comando.

Na sua opinião, essa atitude é totalmente prejudicial para as relações de trabalho ou tem algum lado positivo? Por exemplo: uma bajulação premeditada, para agradar a pessoa e torná-la mais produtiva e disposta a trabalhar é realmente condenável? 

Mario Persona - Sem dúvida alguma, o elogio deve ser reconhecido como tal e nunca ser interpretado como bajulação quando existir motivo para o colega ser elogiado. Todos nós somos movidos a vários combustíveis, e o ego é um deles. Gostamos de ser reconhecidos pelo nosso trabalho e neste caso os elogios podem ajudar a nos impulsionar.

Vestir a camisa da empresa, surpreender o superior com um projeto inovador, elogiá-lo quando recebe um prêmio significativo, não esquecer de datas importantes, como aniversário. Todas essas iniciativas são até consideradas saudáveis para se conquistar um bom relacionamento interpessoal no ambiente de trabalho. Como é possível manter uma relação cordial e amigável com alguém influente, como o diretor da empresa, por exemplo, sem ser taxado pelos colegas de puxa-saco?

Mario Persona - Tudo isso vai depender muito daquela sensibilidade à qual me referi. A sensibilidade impedirá que você chegue com um presente caro na data de aniversário de um chefe com quem nunca conversou antes ou teve qualquer tipo de relacionamento. Porém, se você joga bola com o chefe todo fim de semana, dar um presente em seu aniversário não será visto como bajulação, mas apenas como a confirmação de um relacionamento que já existe.

Entrevista concedida ao Jornal Mundo Corporativo UNIMED Londrina em 10/03/2009.

Entrevistas como esta costumam ser feitas para a elaboração de matérias, portanto nem tudo acaba sendo publicado. Eventualmente são aproveitadas apenas algumas frases a título de declarações do entrevistado. Para não perder o que eu disse na hora da entrevista, costumo gravar ou dar entrevistas por escrito. A íntegra do que foi falado você encontra aqui. Se achar que este texto pode ajudar alguém, use o formulário abaixo para compartilhar.

Mario Persona é consultor, escritor e palestrante. Veja em www.mariopersona.com.br


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