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Ao mestre, o carrinho.

CRÔNICAS DE NEGÓCIOS

Ao mestre, um carrinho.

O menino tinha os olhos fixos nas mãos do avô. Pescoço esticado, tentava compensar os menos de quatro anos de estatura. A oficina improvisada no quintal era o seu reino encantado e o passatempo do aposentado. "Por que você está fazendo esse furo?", "O que vai fazer com o parafuso?", "Para que serve essa ferramenta?". Cada pergunta disparava o sinal para mais uma aula.

Meu sobrinho parou, pensou e sonhou, rompendo trinta segundos de um raro silêncio: "Vovô, se eu tiver duas tábuas e um pedaço de vidro, vou fazer um carrinho de pipoca". Era sua síntese da lição aprendida, inflada pelo sonho de uma ainda pequena vida. Aprender e sonhar, ingredientes de quem ousa e quer ousar. Meu pai sorriu e aparafusou a frase no coração.

Crianças aprendem e sonham vinte e quatro horas por dia. Até quando dormem não deixam de aprender com os sonhos. E é quando elas dormem que sonham os sonhos maiores. Sei disso porque era sempre mais difícil carregar meus filhos quando dormiam. Ficavam mais pesados.

Aprender é subproduto da humildade. Algo que as crianças podem nos ensinar, se quisermos aprender. Antes de ser mestre, preciso ser aprendiz. Esticar o pescoço para enxergar mais, sem ter vergonha de perguntar. Porque, não sei, mas sempre que penso que sei, cai um problema difícil jamais pensei precisar resolver. E quase sou reprovado.

Quem pensa que sabe não aprende, não sonha novos sonhos, nem ousa novas ousadias. Considero meu diploma um atestado de incapacidade. Um documento que diz: "Vejam! Foi só até aqui que o Mario chegou!". É a tentadora poltrona de uma etapa alcançada, quando aquela voz sem razão diz: "Pare, você merece um descanso".

Peter Drucker disse que seus antepassados, gráficos de 1510 a 1750, não precisaram aprender nada de novo naquele período. Nada mudava. Hoje a obsolescência está invadindo o conhecimento humano. Testemunho disso são aqueles livros e manuais de software esquecidos na prateleira. Só é alguma coisa quem sabe, só sabe quem aprende e só aprende quem não pára.

Aprender não é tirar um novo certificado de versão. É preciso uma atualização constante, formal e informal, que acrescente funcionalidades que a primeira versão não previa. Ainda me lembro da versão em que Mc Luhan apresentou a aldeia global da era da comunicação. Depois Alvin Toffler avisou que estávamos na era da informação. Aí veio Peter Drucker nos introduzir à era do conhecimento ou do capital intelectual. Agora chegamos a uma era que não era, mas é. A do aprendizado contínuo.

Mas nenhuma escola consegue nos preparar para um futuro que não foi inventado. Foi só na idade em que os médicos nos ensinam a falar números -- trinta e três -- que aprendi a usar um computador. Já na primeira foto que tenho de meu filho sentado em frente a um micro, seus pés mal tocam o chão. A tecnologia que ele irá usar aos trinta e três ainda não foi inventada. A que seus filhos usarão, sequer sonhada.

Em uma experiência em escolas, o professor perguntou à primeira série: "Quem for artista levante a mão". Todos levantaram. Na segunda série, metade levantou. Só 30% na terceira e apenas dois alunos levantaram a mão na sexta série. Será que o salto alto do saber inibe a capacidade criativa? Não responda. Nem eu, nem você, sabemos a resposta.

Nossa avaliação pode estar errada. Como a avaliação do pai, na propaganda americana na TV. "Pai, quero ser professor", diz o menino entusiasmado. "Por que não quer ser médico?", sugere o pai, dando a entender que a profissão é mais importante. "Mas não são os professores que fazem os médicos?", indaga o pequeno encerrando a conversa.

Aprendo, quando dobro a esquina do que sou para encarar os desafios do que serei. Dobrar essa esquina exige flexibilidade. Tanta, que o orgulho daquilo que já sei precisa ser dobrado junto, e eu me tornar aprendiz de um mestre avô. O grau mínimo necessário para se construir um carrinho de sonhos. Além de duas tábuas, um pedaço de vidro e a ousadia de quem sonha.

Mario Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Veja emwww.mariopersona.com.br

Esta crônica de Mario Persona pode ser publicada gratuitamente como colaboração em seu site, jornal, revista ou boletim, desde que mantidas na íntegra as referências acima. 


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