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Globalinguação

CRÔNICAS DE NEGÓCIOS

Globalinguação

A língua portuguesa tem dado o que falar. E muita gente quer culpar a globalização pelo funk dançado por morenas oxigenadas. Pode ser. O primeiro tigrão foi trazido ao país por uma multinacional do petróleo. Outro veio na caixa de sucrilhos. Mas a questão é saber se a língua é um meio ou um fim. Acho que o fim da língua é ser um meio. Que dá sabor à cultura de um país. Mas quando a cultura é permeável, que culpa tem a língua por denunciar isto?

A preocupação é que a indiferença à invasão estrangeira na cultura possa nos fazer indiferentes à invasão do território. E à destruição de nossas castanheiras, tucanos e onças. Acho que é um exagero. Ainda que alguns possam querer a extinção dos tucanos, conheço muitos que são amigos da onça.

Não é de hoje que somos alimentados com estrangeirismos. Alguns de nossos nativos costumavam comer seus inimigos para assimilar sua coragem. Nelson Pereira dos Santos imortalizou isto em seu filme "Como era gostoso o meu francês". Mas cometeu um erro histórico. Acredito que os índios gostassem mais de português. Por isso o tupi não sobreviveu nem como canal de TV. Que nunca transmitiu nada naquele idioma.

Mas globalização não é um fenômeno local. Em San Diego fui atendido por uma garçonete latina que não entendia inglês. Enquanto eu falava, ela olhava para o chão. Talvez por inibição, ou procurando uma legenda em meus pés. Isto aconteceu num país que até hoje não possui uma língua oficial. E onde pelo menos trinta idiomas são falados por mais de mil pessoas.

Não é às custas de conversa fiada que a língua se impõe. O comércio é seu principal transmissor, já que é uma atividade comum a todos os povos. E temos sorte se as rotas comerciais de hoje têm o inglês como língua predominante. Se vivêssemos nas globalizações passadas, iríamos falar business-to-business na língua dos babilônicos, medo-persas, gregos ou romanos. Porque foram impérios igualmente globalizantes.

A fórmula daqueles impérios era possuir um trono revestido de autoridade divina dominando sobre reis nativos. Estes podiam manter com seus idiomas, desde que assimilassem a língua do invasor para negócios e documentos oficiais. Conquistavam no papo o que não conquistavam no sopapo. Neste sentido, o império romano merece um Oscar, só pelos efeitos especiais que conseguiu imprimir na civilização ocidental.

A influência globalizante romana continuou muito depois da queda do império original. Quem tem a minha idade já viu muita missa em latim. Quando criança, eu via o padre pelas costas e não entendia nada do que falava. Para quem pegou só o resto do ensino regulamentar do francês no ginásio, aquilo era grego. O latim sumiu das missas mas continuou nos fóruns, talvez pela lentidão dos processos. Ainda tentamos manter o status quo, enviando nosso curriculum vitae para ganhar o pro labore. E se tiver problemas, posso continuar escrevendo graças a um habeas corpus.

Assim, reinos vão, e reinos vêm. Portanto, seja paciente com o inglês, cuja influência não tem um século. Mais uns duzentos anos e outra língua predominará. E não será o esperanto, ao qual falta o poder. Enquanto isso, vá usando o inglês quando for este o caminho mais curto para fazer negócios. Sem fazer desta ou de qualquer língua um fim em si mesmo. A língua é um meio a serviço do homem. Não o contrário. Línguas passam, culturas desaparecem e fronteiras são redesenhadas. Mas as pessoas permanecem e continuarão arrastando a língua na poeira de seus negócios.

Nem pense que eu esteja insinuando que o meio não seja importante. É, e muito. Quando o meio perde o seu valor, pode perder também o seu lugar na boca do povo. Aconteceu comigo em uma lanchonete em Santos. O bolinho de camarão chamava a atenção por ter um palmo de comprimento. A cabeça saía de um lado e o rabo do outro. Atraente e apetitoso. Até eu descobrir que o meio não passava de uma massa sem identidade própria. Tinham comido o que fazia a ligação entre o princípio e o fim.

Mario Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Veja emwww.mariopersona.com.br

Esta crônica de Mario Persona pode ser publicada gratuitamente como colaboração em seu site, jornal, revista ou boletim, desde que mantidas na íntegra as referências acima. 


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